Mas não sou. Não tenho.
Ainda assim, há aquelas que são mais acessíveis. Velhinhos tentando atravessar a rua, subir uma escada; gente pedindo informações. É engraçado como sou solidária com os desconhecidos. Acho que minha mãe adoraria não me conhecer!!
E uma dessas pessoas estava no mesmo ônibus que eu, ano passado. Sempre que subo no ônibus após a aula, eu gosto de sentar lá no fundo e ouvir música. Fico lá, que nem autista, desligada do mundo. Mas essa pessoa me chamou a atenção.
Era uma vendedora. Não lembro ao certo do quê, a música era muito legal. Foi aquela coisa de praxe: ela subiu pela porta de saída, deu bom-dia e começou a oferecer – canetas! – canetas.
Ninguém prestava atenção no que ela dizia. Todo mundo de rosto virado, uns também com fones de ouvido como eu, outros lendo, outros conversando. A maioria centrada demais nos próprios problemas. Ela passava de banco em banco mostrando como as canetas eram coloridas, cheirosas e bonitas. Mas ninguém parecia ver. (Deve ser muito estressante ser vendedor ambulante. Eles dão um duro preparando algo para falar, carregando aquela mochila, andando debaixo de sol.) Ela deveria já estar cansada. Mas ela não estava.
Ela estava superfeliz.
A mulher nem se importava se não quisessem comprar, só de ter oferecido já era motivo de alegria. A essa altura eu já tinha abaixado o volume da música, então pude ouvir que ela desejava boas coisas a todos por quem passava.
E quando chegou a minha vez, eu estava com algumas moedas na mão. A mulher já ia me entregando uma caneta, tão radiante quanto. Mas fiz que não com os dedos, e disse:
- Não vou querer a caneta, moça. Estou lhe dando dinheiro só porque a senhora está sorrindo.
Ela arregalou os olhos e numa expressão de ternura, respondeu:
- Puxa, muito obrigada!!!
Depois foi embora, alegre. Nunca mais a vi de novo. Claro que não mudei sua vida, mas não importa. O sorriso dela iluminou meu dia.
.Txia. foi chamada de insensível ontem.